16 novembro 2006

A COMPLEXIDADE NATURAL DOS HOMENS

As leis e imposições da sociedade nunca são mais do que convenções. Por antigas, respeitáveis ou temíveis que pareçam, não são uma parte inamovível da sociedade nem resultam da vontade de um misterioso deus: foram inventadas por homens e podem ser modificadas ou abolidas por um novo acordo entre os seres humanos. Algumas convenções (pôr gravata para se poder entrar em determinado restaurante) exprimem apenas preconceitos tolos, mas outras convenções (não matar o vizinho…) merecem muito maior apreço. Nem todas as convenções são acessórios facultativos pois sem certas convenções não poderíamos viver (a própria linguagem é convencional). Dizer que os costumes e leis são convencionais não nega que se apoiem em condições naturais da vida humana. Os animais têm mecanismos instintivos que os obrigam a fazer certas coisas e os impedem de fazer outras, mas nós humanos, temos a razão. E o que é a razão? É a capacidade de estabelecer convenções, leis que não nos são impostas pela biologia, mas que voluntariamente aceitamos. Nós somos instintivamente racionais porque as sociedades humanas não se limitam a ser simplesmente um meio que nos permite viver com um pouco mais de segurança num mundo hostil. Nós somos animais sociais mas não somos sociais no mesmo sentido que os restantes animais o são.
Aqui reside a principal diferença entre a nossa sociedade e a dos restantes animais ditos sociais. Porque é que nós vivemos de uma maneira tão complicada? Porque não nos contentamos com comer, acasalar, descansar… e recomeçar? Não seria suficiente? Há sempre um ou outro ecologista bem-intencionado que considera aconselhável que regressemos á simplicidade natural. Mas os seres humanos terão alguma vez sido simples? Até mesmo as tribos mais primitivas de que temos noticia estão cheias de invenções requintadas mesmo quando são só invenções mentais: mitos, lendas, rituais, tabus, adornos, modas, danças… Os homens jamais se limitam a deixarem-se viver sem excessos expressivos. Há uma espécie de inquietação própria dos humanos e que os outros seres vivos parecem não sentir. Uma inquietação que resulta do medo do tédio… temos um cérebro enorme que se alimenta de muita informação, de novidades, e quando há um decréscimo de excitação intelectual causado pela rotina nós temos que procurar novas formas de estímulo. O ecologista de que falei á pouco pretende voltar atrás – mas como? E como decidiremos nós com o que nos deveremos contentar se é a inquietação que nos caracteriza? A inquietação nunca falta e não pára de crescer: para quê sonharmos em voltar atrás, á relativa simplicidade, se é de trás e do que era simples que nos vêm todas as nossas complicações actuais? Porque havemos de supor que as mesmas coisas não nos fariam percorrer o mesmo caminho, se fosse possível que voltássemos atrás?

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