10 julho 2006

OBJECTIVO DA VIDA - O AMOR E A MORAL

Qual é o grande objectivo da vida, sem querer simplificar demasiado a questão? A vida por si só não tem um objectivo definido… nós é que temos que dar significado á nossa vida. Olhando para a sociedade actual o objectivo será trabalhar como uns camelos para ter mais status (dinheiro) que o vizinho do lado? Será o objectivo inserirmo-nos num grupo de opinião que defenda os nossos interesses e discriminarmos as pessoas que pertencem aos restantes grupos? Resumir-se-á a vida a uma luta desnecessária de recursos sabendo que, se de facto formos mais inteligentes, haverá recursos para toda a gente? Sejam estes recursos a liberdade, direitos, deveres, ou algo mais objectivo como água potável, condições mínimas de dignidade e respeito pelos direitos humanos em todo o mundo. Do mais simples ao mais complexo, os problemas da nossa sociedade devem-se em grande parte á falta de respeito para com as minorias, para com o ambiente e para com os outros em geral.

O amor – o que é isso? Porque é que nos sentimos sozinhos no mundo embora tão rodeados de gente conhecida e amigos? Ouve-se muitas vezes dizer que devemos amar os outros tanto como a nos próprios – será isto possível? Não é assim tão linear. Da minha perspectiva, a minha vida é a coisa mais importante que existe… mas será isto agradável? Se eu tiver consciência que outra pessoa qualquer por sua vez considera a sua própria vida de mais elevada importância do que a vida dos outros então eu sou importante apenas para mim próprio – não é apenas uma questão de egoísmo… até aqui este raciocínio é lógico e penso que é o mais realista que se pode arranjar.

Esta hierarquia não valida qualquer tipo de descriminação ou desvalorização dos outros… é apenas a lógica… se eu não viver então para mim mais nada interessa… mas se outra pessoa morrer, o mundo para mim continua.
Visto isto, torna-se necessário que a minha vida seja importante não só para mim mas para mais alguém, nunca para todos que isso já é pedir demais. Amar alguém é considerar que a vida de alguém (quase que) pode valer tanto como a nossa… o bem-estar dessa pessoa vale tanto como o nosso bem estar; não é ser altruísta – continuo a ser egoísta – mas consciente que se perder aquela pessoa darei um passo atrás na minha vida, e se nada fizer depois de então, não conseguirei alcançar o grande objectivo da vida. Eu tenho que ter valor objectivo, não apenas para mim próprio, pois quando eu morrer a quota parte da minha auto-valorização vai-se e só fica o valor que eu tive para os outros… pois se não tivermos valor para os outros então para quê viver em sociedade?
Não falo do valor como trabalhador, como contribuinte… mas no valor que realmente me distingue dos restantes trabalhadores se contribuintes… um valor insubstituível… eu não posso ser apenas mais um entre todos estes milhões de pessoas.

O amor não é nada de transcendente…é lógico. Eu amo a pessoa que me faz falta – trata-se de uma relação custo-benefício. Não sou totalmente autónomo… porque hei-de viver sozinho? Não existe amor á primeira vista pois quando conheço alguém pela primeira vez essa pessoa ainda não me trouxe nenhum benefício para eu sentir falta dela. O amor também não dura para sempre – dura enquanto valer a pena – portanto o pior que se pode fazer é acomodarmo-nos e pensar que não é preciso fazer mais nada para ter a pessoa amada ao nosso lado. Temos que beneficiar da pessoa amada e temos que lhe dar benefício e isto tem que ser em regime continuo… não vou agradecer vitaliciamente a uma pessoa que me trouxe alguns benefícios há 20 anos atrás.
O amor então é algo cumulativo que, caso haja benefício continuado, aumenta com o passar do tempo… a amor não cai do céu… surge devagar… não devemos ter presa.

Acho que já dei um argumento bastante válido para a razão lógica pela qual devemos dar valor á vida dos outros e de alguém em particular além de nós mesmos. Amor não é um dever, é um benefício. Não precisamos de apregoar falsos moralismos com fundamentos religiosos – se a nossa relação uns com os outros for na base do custo-benefício então valerá sempre a pena fazer o bem ao próximo enquanto não houver motivos para fazer o contrário, desde que tenhamos em consideração as consequências a longo prazo das nossas acções.

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