19 dezembro 2005

FILME ‘MAR ADENTRO’ – ALEJANDRO AMENABER

Penso que a maioria de vós já ouviu falar deste filme, que passou a semana passada na RTP1, que trata duma historia verídica de um homem que partiu o pescoço num mergulho mal calculado e ficou 28 anos tetraplégico pedindo a eutanásia até que resolveu “tratar do assunto” com a ajuda de uma amiga visto não ter obtido qualquer ajuda do estado para resolver a sua situação dando-lhe uma “morte com dignidade”, como o próprio dizia.

Achei o filme excelente pois fala do direito de escolha: mais uma vez a questão essencial de até que ponto devemos ser livres de fazermos as nossas próprias escolhas.

Gostaria de destacar os pontos altos com algumas frases proferidas no filme:

Quando um padre também tetraplégico foi visitar Rámon este disse-lhe o seguinte (+/- isto):

“Se ter liberdade de tirar a vida não é liberdade, a vida sem liberdade também não é vida (…) e porque razão a igreja tem tanto pavor da morte? Durante muitos anos a igreja condenou á fogueira todos aqueles que não concordassem com os seus valores portanto se ainda hoje assim fosse eu seria queimado vivo.”

Noutra altura, quando Rámon foi a tribunal o seu advogado disse o seguinte:

“Dizer que a vida não nos pertence é o mesmo que afirmar a existência de alguma entidade metafísica ou religiosa, mas como o estado é laico então não tem o direito de afirmar que a vida não nos pertence.”

Acho que ficou clara a minha posição sobre a eutanásia. Sempre que a pessoa esteja consciente e tenha todas as capacidades intelectuais então deve ter direito á eutanásia sem demasiadas restrições… nos países onde a eutanásia já é legal existe muitas restrições do género: doença sem hipóteses nenhuma de recuperação, dor intensa e prolongada… mas se a pessoa em causa estiver consciente então de que serve não ter dores se tiver presa a uma cama e ser totalmente dependente dos outros? Para mim a grande problemática da eutanásia é a situação das pessoas que não são capazes de manifestar a sua vontade: pessoas em estado vegetativo por exemplo.

2 comentários:

Eduardo disse...

O grand eproblema que eu vejo na eutanásia, caso seja legalizada é que aquelas pessoas que estão imobilizadas numa cama ou cadeira de rodas, fiquem deprimidas e como não podem cometer o suicidio, pedem a eutanásia. Os casos publicos de pessoas que pedem a eutanásia, mostram pessoas lucidas e percebe-se que foi uma decisão pensada durante muito tempo, não um acesso de depressão. É extremamente importante que quando a eutanásia for legalizada (espero que sim), existam mecanismos para garantir o apoio a pessoas nessas condições de modo a que seja uma decisão plenamente lúcida, e não resultado de um momento de falta de esperança.

Carlos disse...

uma pessoa normal que esteja deprimida não se vai suicidar de um dia para o outro...e se o fizer está no seu direito portanto uma pessoa que nao seja capaz de se suicidar deve ser assistida. Se a eutanasia é um suicidio assistido entao nao faz muito sentido criar legislaçao muito exigente e demasiado vaga tendo em conta aquilo q realmente interessa: a vontade da propria pessoa. Dizer a uma pessoa que quer morrer para pensar melhor no assunto ou "isso é depressão...isso passa...a vida é bela..." é tentar fugir ao tema. Eu percebo o que queres dizer mas da forma que dás a entender implica pôr em segundo plano a liberdade de escolha das proprias pessoas pois ninguem toma uma decisão destas porque acordou mal disposto.

falas em mecanismos de apoio a estas pessoas...nao sao so estas as pessoas q precisam de apoio...existem cerca de 1 milhao de suicidos por ano! isto é preocupante mas é um direito e a solução nao deve ser apenas proibir...no meio disto tudo a eutanasia é um pequeno detalhe. Como dizia o Ramon no filme: "a vida é um direito e nao uma obrigação".