02 outubro 2006

ÉTICA DE UM EGOÍSTA

Ter ética consiste em decidir através de razões o que em cada momento é preferível fazer. A ética não é apenas uma forma de obediência nem um seguir da corrente maioritária, nem muito menos a arte de mascarar com belas declarações altruístas o egoísmo inconfessado. Ser ético é precisamente assumir com total explicitude as últimas consequências racionais e práticas do egoísmo. E isso não é tarefa tão comummente aceite como parece. Ser um egoísta espontâneo é coisa fácil mas de curto alcance. O que é difícil é ser ao mesmo tempo racional e egoísta.
Ser egoísta racional é aceitar na prática que o primeiro e mais fundamental dos instintos egoístas é superar a solidão – é qualquer coisa que só posso conseguir através da relação com os outros. Ou sou eu através dos outros ou sou ‘coisa’. É egoísta irracional aquele que pensa que pode ser ‘eu’ sem a cumplicidade dos outros. A verdade é que não posso desprender-me dos outros, despreocupar-me deles convertendo-os em puros instrumentos. Deste modo o problema que a ética enfrenta é: que devo dar aos outros para receber deles o que o meu egoísmo reclama? O meu vínculo racional com os outros vem daquilo que eu realmente quero: do meu egoísmo. O dever é a consequência prática e pública do meu querer.





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